terça-feira, 7 de outubro de 2008

Papel do fisioterapeuta

Bom dia Professor!!
Tudo bem?
Aproveito para o questionar, pois julgo ser a pessoa indicada pela experiência que tem dentro e fora de portas, acerca de um aspecto muito particular.
O do Fisioterapeuta no Andebol…
Ao longo do tempo fui-me deparando com realidades que não se coadunam com a minha forma de estar.
O que quero dizer é que reparo que existe um subaproveitamento do Fisioterapeuta, já que este pode oferecer muito mais do que oferece nos clubes por onde passa.
Não será aquele profissional para tratar apenas determinada lesão… Mas para a maioria julgo que o é!
Sempre tive a preocupação, e com o passar do tempo e de acordo com a formação que felizmente tenho a sorte de fazer ano após ano com os melhores nomes internacionais da área, de intervir de forma diferente e a meu ver marcante!
Aquele fisioterapeuta que se limita a passar o treino sentado à espera que algo aconteça está condenado ao insucesso. Na minha opinião o nosso papel tem que ser muito mais activo. Tem obrigatoriamente que passar pelo trabalho diário com os atletas com o objectivo de prevenção.
Isto é, o fisioterapeuta não pode estar à espera que alço aconteça… tem que se antecipar ao surgimento de determinada lesão, pois como ambos sabemos a esmagadora maioria das lesões são de carácter microtraumático (mesmo aquela rotura do ligamento cruzado anterior que por vezes se diz que foi apenas macrotraumático e que ultrapassou o limite fisiológico da estrutura, muitas vezes apresenta um longo período de preparação para que um dia rompa… mecanismos complexos mas muito bem explicados biomecanicamente…)
Para não me estender muito mais e não ocupar o seu tempo, o que quero dizer é que o que faço/fazia com as equipas desportivas é trabalhar mesmo que o atleta seja ainda assintomático e não aguardar pela instalação de determinado quadro doloroso.
Com a consciência, como fisioterapeuta, docente do curso de fisioterapia, etc, que esta tarefa não é fácil e envolve muito investimento em formação por parte do profissional… Mas será que os grandes clubes não pretendem sempre os melhores??
Gostava de ter a sua opinião quanto ao que se passa fora de Portugal neste particular, pois cá, pelo que vi nos últimos anos o fisioterapeuta e responsáveis pelo clube não têm esta forma de estar, sendo na minha opinião decisiva.
Obrigado pela atenção.
Continuação de bom trabalho.
Abraço

3 comentários:

Ricardo Amorim disse...

Boa tarde a todos.
Não poderia deixar de dar os parabéns ao Professor Paulo Pereira pelo espaço aqui apresentado...
É com muita satisfaçao que vejo exposto em "praça pública" um tema que me interessa particularmente...
Ou deverei dizer que me preocupa particularmente...
Sem a meu ver, qualquer tipo de contestação, existe um subaproveitamento do Fisioterapeuta no campo desportivo.
Primeiro porque muitas vezes o profissional não tem conhecimento da imensidão de estratégias a implementar na área desportiva para maximizar ao máximo o alto rendimento do atleta, e em segundo porque muitas vezes aqueles que denotam tal conhecimento nao o colocam em prática por imposiçao da direcção ou treinadores. Quero acreditar que esta última se deve á falta de conhecimento por parte do treinador e /ou direcção.
Julgo ser decisivo que o papel diário do Fisioterapeuta tenha que ser bem mais do que simplesmente:
- fazer ligaduras funcionais;
- fazer uns exercícios de flexibilidade no fim do treino;
- fazer uns exercícios de proprioceptividade e reforço muscular...;
- entre tantos outros que poderia aqui enumerar...
De facto o exposto é de importância reconhecida, mas pessoalmente julgo ser manifestamente insuficiente!
O nosso corpo é um máquina demasiadamente complexa para se julgar que basta fazer um reforço muscular ou um trabalho de flexibilidade ou até mesmo um trabalho de proprioceptividade para que se previnam de forma efectiva as lesões!
Tem que ir muito além. Passa por trabalho diário com os atletas, com o objectivo de os avaliar de forma aturada no sentido de serem identificadas "lesões" musculo-articulares" que estejam a "minar" o surgimento de determinada lesão.
Deveria ser, mas não é, de conhecimento geral que existem zonas consideradas fundamentais para que o nosso corpo responda de forma sustentada a determinado estímulo...
São elas o occipital, charneira cervi-torácica, charneira toraco-lombar, sacro, iliacos e pé!
O que quero dizer é que o trabalho diário passa pela análise destas regiões por forma a descortinar eventuais alterações que poderão estar na base de um qualquer quadro doloroso.
De momento é a forma mais efectiva que conheço, coadjuvada pelo reforço, flexibilidade, proprioceptividade, etc, para prevenção de lesões.
Passo a explicar em termos práticos o alcance das minhas palavras:
Será possível ter uma dor / limitação no meu ombro devido a um entorse na tibio-társica?
Sim, sem dúvida.
Quando se dá o entorse por inversão o peróneo desce e o seu terço distal anterioriza. Quem se insere proximalmente na cabeça do peróneo? O musculo semi-membranoso (um dos que faz parte dos isquiotibiais). Qual a origem deste musculo? A tuberosidade isquiatíca do osso iliaco. Então com a descida do peroneo o semi membranoso é tensionado e pela sua origem vai induzir uma descida (retroversão) do osso iliaco. Qual é o musculo que une o nosso osso iliaco ao nosso ombro? é o grande dorsal que tem por função por exemplo a extensão, adução e rotação interna do ombro. Assim com a descida do iliaco tensiona-se o grande dorsal que pela sua origem (ombro) induz por exemplo uma rotaçao interna do ombro.
O que é que será que vai acontecer ao atleta que repete vezes sem conta o movimento de abduçao e rotaçao externa do ombro para rematar?? Naturalmente que a rotação externa vai estar limitada pelo mecanismo exposto, o que dita por exemplo um conflito sub acromial. Resultado final:
- a vulgarmente chamada de tendinopatia do supra espinhoso ou da longa porção do bicipede braquial ou ainda uma inflamção da bolsa subdeltoideia!

Pergunto-me!! Será que é suficiente "tentar" tratar o musculo supraespinhoso para ultrapassar o quadro doloroso??
Parece-me que ficou bem claro que NÃO!!
A intervenção do Fisioterapeuta tem que ser muito mais global. Tem que se basear numa procura incessante e desafiadora do mecanismo que motivou a instalação de determinada sintomatologia.
Na minha opinião só assim se conseguem ter resultados eficazes.
Costumo dizer que quem se limita a constatar consequências (como a dor no ombro) está condenado ao insucesso. A abordagem tem que ir no sentido de se identificar com o maior rigor possível a causa do problema!!
Naturalmente sou sensível às dificuldades inerentes ao desenvolvimento prático de todo este processo, mas não será o mais correcto?
Alerto para o facto de ser um problema geral e não do andebol. Tenho conhecimento de grandes clubes europeus de futebol onde são evidentes estas limitaçãoes...
Obrigado pelo vosso tempo.
Peço desculpa talvez pela forma apaixonada com que apresentei a minha forma de estar, mas torna-se dificíl observar diariamente que existe uma falta de inércia muito marcada nestes aspectos.
Como foi lançado no blog, o Fisioterapeuta não pode passar o treino sem fazer nenhum... (passo a expressão).
Bom trabalho a todos.
Saudações desportivas,
Ricardo Amorim, Fisioterapeuta

Anónimo disse...

Uma pequena correcção: "Quem se insere proximalmente na cabeça do peróneo? O musculo semi-membranoso (um dos que faz parte dos isquiotibiais)." - Tá enganado Ricardo... lá insere-se o Bicipite crural, o semi-membranoso, é na porção interna do joelho... Um abraço
Parabéns pelo blog Prof.

Ricardo Amorim disse...

Boa noite caro "Anónimo".
Antes de mais agradecer a sua correcção. Naturalmente foi um lapso da minha parte.
De qualquer das formas fico satisfeito com o seu eventual interesse na temática e também pelo facto da minha exposição não ter criado dúvidas.
Seria muito bom, na minha opinião, que todos tivessem esta visão mais global do atleta!
Continuação.
Obrigado.
Cumprimentos,
Ricardo Amorim