quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ainda defesa na iniciação

Agradeço o contributo do Paulo Sá, não só por termos ideias similares mas sobretudo por ter sido um dos treinadores que se preocupou em deixar por escrito a sua opinião acerca deste tema tão importante para a formação dos e das jovens praticantes.

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Procurando dar algum contributo a esta problemática, e após leitura de algumas opiniões aqui colocadas, verifica-se que a forma de abordagem da aprendizagem defensiva não é um tema que recolha consenso.Parece em primeiro lugar que se deveria procurar reflectir sobre o que precisamos de ensinar aos jovens atletas nestas fases de iniciação, porque não é o sistema defensivo utilizado na competição que vai influenciar por si só o desenvolvimento futuro do atleta, mas antes o que ele realiza durante a semana. E aqui os técnicos dos escalões de iniciação devem retirar da vitória imediata o seu primordial objectivo (não é fácil), porque o que devemos procurar é formar os atletas para o futuro, e para isso é necessária muita paciência, nossa e dos que nos rodeiam – dirigentes, pais e atletas.Penso que esta forma de abordagem dos sistemas defensivos pode ser adequada:Bambis: jogo 5x5, campo reduzido (20 x 13), balizas de tamanho reduzido, áreas de 5 metros circulares; marcação individual próxima da área de baliza; competição apenas lúdica com implementação de grandes organizações de Festand’s, com actividades variadas, para além do andebol.Minis: jogo 5 x 5, campo reduzido (28 x 15 – campo de basquetebol), balizas de tamanho reduzido, áreas circulares de 6 metros, defesa à zona com responsabilidades individuais; competição apenas lúdica com implementação diferindo da competição dos bambis pela diminuição de outras actividades e por maior concentração no jogo de andebol. Neste escalão torna-se evidente o aumento da largura do campo em relação aos Bambis, mas é muito cedo para a utilização de toda a largura.Estes dois escalões não devem ter competição formal organizada, ou se ela existir, sem preocupação de resultados e classificações. Ainda são crianças, que querem é brincar e divertir-se com o jogo. E também permitirá aos técnicos o treino sem a “pressão” da competição.Infantis: parece que o modelo dinamarquês pode ser interessante, jogo de 6 x 6, com defesa 5:0 e ataque com 2 laterais e jogador pivot. Pode claramente favorecer a aplicação de todos os conteúdos ofensivos de futuro e criar nos defensores claras noções de ajuda, troca de marcação e deslizamento, podendo também potenciar características antecipativas neste sistema defensivo.

Paulo Sá

2 comentários:

Duarte disse...

A leitura de vários comentários, leva-nos realmente a uma diversidade de opiniões relativamente aos sistemas de defesa a utilizar na formação.
È com grande satisfação que verifico que todos são comuns a um ponto, “ devemos realmente ensinar os atletas a defender”, o que quero eu referir que existem uns sistemas que evidenciam mais as qualidades técnico-tácticas que outros, e os sistemas de duas linhas são os mais evidentes, referindo, na minha perspectiva o sistema 3:3. Com esta ideia pessoal não quero dizer que, o melhor sistema na formação seja este, mas sim um sistema que maximiza as qualidades técnicas e tácticas de um jogador, do que os sistemas de uma linha, em que evidenciam sempre as características antropométricas. Factores esses que não controlados por nenhum treinador, nem pelos próprios atletas. Sim há que ensinar todos os princípios da defesa, individuais e colectivos e maximizá-los o mais possível no contexto real, o jogo.
Porque eu faço desafio aos treinadores, que ensinem todos os conceitos defensivos, a nível individual e colectivos, apliquem em uma defesa de uma linha, e posteriormente tentem introduzir uma defesa de duas linhas, como a 5:1 ou a 3:2:1, para já nem falar da 3:3 e verificaram que os jogadores exteriores terão mais dificuldade em realizar as tarefas defensivas.
Sou da mesma opinião, que na formação há que ensinar e quando possível vencer, por isso é normal, que aqueles treinadores (que possuem atletas com boas características antropométricas) que só pensam em vencer, utilizem sistemas que mais favorecem as mesmas. Desta forma penso que à medida que as equipas, se vão aproximando do escalão maior, possuam pelo menos o domínio em dois sistemas defensivos, um de duas linhas e outro de uma linha. Mesmo este último deve ser utilizado, de maneira que se evidenciem os princípios técnico-tácticos da defesa, individuais e colectivos e não as características antropométricas dos seus jogadores.
No que diz respeito à organização do jogo nos escalões mais baixos, eu penso que se podia fazer mais alterações no que diz respeito à sua estrutura.
No passado fim-de-semana, tive a oportunidade de assistir a uma jornada de mini andebol aqui em ONDA – Espanha, num sistema de 5x5, verifiquei que existem muito atletas, que quase no tocam na bola durante o jogo, que todas as equipas têm pelo menos 4 jogadores no banco de substituições, agora eu faço a pergunta:” Se o objectivo é ensinar e transmitir o conceito do jogo de andebol, porquê existem atletas, que passam tanto tempo sem tocar na bola quando estão em campo?”, aqui existe um grave problema, não só de densidade motora, mas também a nível de motivação por parte das crianças para voltarem a jogar, porque se vêem privados da coisa que mais gostam, a bola e a participação no jogo.
A nível estrutural, verifiquei que mesmos os “mais aptos”, têm dificuldade em rematar à baliza, porque têm um défice de força, normal em estas idades, quando comparadas a dimensões das áreas restritivas e das dimensões do campo de jogo.
Tudo isto, não são opiniões pessoais, mas sim a constatação de factos.
Desta forma, deixo a pergunta: “ O modelo organizativo em mini andebol existente, está adequado?”.
Mais uma vez sinto-me muito satisfeito por poder participar neste grande blog.
Um abraço especial ao Prof. Paulo Sá.

Duarte Neto – BM ONDA – Castellón – España.

Hugo Maganinho disse...

Fico muito contente por se aprofundarem cada vez mais as questões de ordem defensiva na formação dos jovens atletas, pois já tive oportunidade de constatar que os que se preocupam com a formação base do atleta são considerados "Aliens" e os que conseguem que as suas equipas marquem muitos golos são "Os Melhores".
Num passado muito recente tive a oportunidade de treinar uma equipa do escalão juvenil cujas debilidades defensivas eram gritantes. Não me adaptei! O processo defensivo em idade jovem deve dotar o atleta de:
- Disponibilidade Física e Mental;
- Gosto pelo Contacto;
- Princípios de movimentação no terreno;
- Cooperação.
Ora, se isto for conseguido através do sistema defensivo 1:1:1:1:1 ou HXH ou 3:2 ou qualquer outro em uma, duas ou mais linhas, então UTILIZE-SE!
A proposta do Prof. Paulo Sá parece-me recheada de potencialidades e se houvesse por parte dos técnicos uma abertura para pôr em campo o que autênticos mestres da modalidade enunciam, a discussão seria mais fértil e o objectivo seria alcançado: GANHAR...muitos atletas para o meu desporto do coração.
Um grande abraço ao Paulo Pereira pelo espaço de indubitável utilidade e outro ao Paulo Sá, por partilhar conhecimentos realmente fundamentados.
Hugo Maganinho