quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Consulta a Carlos Resende - Perguntas 1 e 2

1ª Pergunta: No que diz respeito ao jogo de ataque no andebol, eu gostava de saber qual a opinião do sr. Carlos Resende em relação à utilização do modelo de treino integrado nas situações específicas do ataque (transição, 2.ª Fase e ataque posicional) e como o organizaria num microciclo competitivo, no escalão de seniores, tendo em conta a intensidade e o grau de dificuldade nas tomadas de decisões dos exercícios em questão.
Duarte Miguel Henriques NetoBalonmano ONDA - Espanha.

Resposta: Em primeiro lugar, queria agradecer ao anfitrião do blog pela amizade e consideração. Em segundo lugar, dizer-vos que dada a minha diminuta experiência, ainda, me sinto um pouco confuso a falar para treinadores, quando deveria era ouvir e ler treinadores mais experientes.
“Atacando” a questão, na minha forma de ver o treino, faz todo o sentido a utilização do modelo de treino integrado nas diversas fases de jogo. É bem verdade que é mais fácil colocar um conjunto de atletas a correr/sprintar “isoladamente” e muito mais difícil construir um conjunto de exercícios que possam modelar e sistematizar a nossa transição e ao mesmo tempo pincelar sobre os aspectos físicos necessários para essa fase de jogo!

2ª Pergunta: Gostaria de poder colocar as seguintes questões ao enorme jogador que foi (e ao enorme treinador que se está a fazer) Carlos Resende.
Na questão do modelo ofensivo, parece-me importante a questão do jogo passivo. Como é que treina os seus jogadores de modo a que eles não caiam em jogo passivo? Costuma controlar os tempos de ataque nos treinos?

Resposta: Apenas controlo os tempos de ataque em situações específicas onde tenho um objectivo próprio. Mais que controlar o tempo de ataque, tento, sempre, incutir um espírito de ataque permanente, ou seja, atacar sempre a baliza! Contudo, não confundir o atacar sempre a baliza, com o rematar de qualquer forma. São aspectos diferentes. Atacar sempre a baliza, significa procurar insistentemente e com responsabilidade, individual, procurar colaborar permanentemente com os meus parceiros. É muito diferente passar a bola sem atacar ou conduzir o meu adversário directo para onde o devo conduzir.
Aquilo que treino são um conjunto de situações que temos previsto caso nos sancionem com jogo passivo.

4 comentários:

Duarte disse...

Saudações Desportivas!
Queria agradecer a consideração do sr. Carlos Resende na problemática colocada por mim. Ainda não sou treinador, apesar de ter a formação para tal, sou jogador de andebol. Como tenho uma enorme paixão por este desporto e o facto de ter jogado em dois campeonatos estrangeiros de distintos países,tive a opotunidade de confrontar diferentes ideias no que diz respeito às diversas metodologias de treino. Mas a ideia geral de que me fica como jogador e companheiro de equipa de muitos outros jogadores,não só é, a distância motivacional para a realização de exercícios de grande intensidade, mas também as perguntas contanstes " para que serve isto?" e por isso penso que se o jogador não entender o objectivo do exercício e a sua contextualização do mesmo no jogo, o(s) exercício(s) não vão ter sucesso desejado. Então o objectivo da pergunta não é só dirigida à pessoa como treinador, mas também ao grande jogador que foi. A minha justificação deve-se ao facto de tentar encontrar: primeiro, o equilibrio entre os três sistemas (condicional, coordenativo e cognitivo)e segundo com a percepção dos jogadores criar um processo de treino em que os mesmos são parte fundamental do mesmo, sendo mais responsáveis e mais autónomos, tanto no treino como no jogo. Não sei se com toda esta problemática, vai complicar o que possívelmente é bastante mais fácil, mas todas estas questões surgem de um cruzamento de conhecimentos adquiridos, mais a minha experiência (ainda que não ao mais alto nivel) como jogador e ainda a forma como entendo o jogo de andebol, "um conjunto infinito de situações aleatórias dentro de um regulmento próprio".
Mais uma vez gostava de agradecer a posibilidade de participar neste blog e continuar a trabalhar para fazer evoluir esta linda modalidade que é o andebol.
Um abraço a todos os participantes e especial ao sr. Carlos Resende e o Prof. Paulo Pereira.
Duarte Miguel Henriques Neto - BM ONDA.

Paulo Pereira disse...

Caro Duarte, para a construção de um modelo de jogo sustentado em ideias relacionadas com o construtivismo em que o jogador é o centro do processo, é necessário que tenhas em linha de conta alguns factores que podem condicionar essa construção.

1º É muito importante conhecer profundamente os princípios que devem sustentar o ataque aos diferentes sistemas defensivos e formas de continuidade, já que é sobretudo a partir do trabalho desses princípios que se consegue obter um alto nível de jogo.

2º Qualquer modelo necessita que o seu construtor domine a estrutura interna que define as necessidades condicionais, coordenativas e cognitivas de um determinado desporto, no sentido de não correr riscos de estar a trabalhar em função de necessidades que não são as que definem um bom resultado.

3º É decisivo que os ou as atletas consigam identificar padrões de relação resultantes sobretudo do trabalho entre pequenos grupos em distintos espaços (2X2 e 3X3).

4º É fundamental que o caminho a seguir para implementar o modelo, proponha exercícios com uma elevada carga de significado lógico o que obriga a detalhar sobretudo o seu objectivo devendo estar sempre em relação com o referido modelo.

5º Não podes ignorar questões emocionais associadas aos elementos que compõem a tua equipa que é única e irrepetível. É necessário que neste tipo de modelo a razão e a emoção possam conviver em sã harmonia. Se tiveres jogadores/as que por sistema não conseguem encontrar esse equilíbrio, provavelmente a intervenção do treinador é necessária e por vezes cria mesmo um vínculo de dependência entre atleta e treinador que não se enquadra com este modelo.

Duarte disse...

Obrigado Professor!
Com a sua ajuda as coisas estão bastante mais claras. Toca agora seguir estudando, provar e errar o menos possível. Um abraço.
Duarte Neto.

Anónimo disse...

Caro Duarte Neto,
É com muita satisfação que vejo o teu interesse pela nossa modalidade, porque o primeiro elemento necessário para atingir o sucesso é a paixão que colocamos no trabalho!
De facto, há uma coisa que não poderia estar mais de acordo consigo, e, curiosamente ainda há pouco tempo mencionei a um amigo que gostava de tirar um curso de vendas...porque no fundo todos vendemos algo! Nós, por exemplo, vendemos uma ideia, filisofia, etc. E não tenha dúvida que mais vale um mau exercício que os atletas acreditem que um "XPTO" que eles não valorizem. Contudo, faço questão de ilustrar todos os exercícios que efectuamos, para que todos entendamos o que se pretende, e, porque não, escutá-los nos seus comentários. Todos ´possuimos capacidade crítica, muitas vezes, a única e esquecemos a auto-crítica, esta essencial no nosso desenvolvimento!
Em suma, gosto de ter atletas "desafiantes" com índices de intelegência superior e que me ajudem a crescer!!!
Carlos Resende